segunda-feira, 7 de maio de 2012

Hospitais e coisas que tais...

Não conseguia trabalhar num hospital, numa clínica ou em qualquer outro espaço que envolvesse gente em sofrimento atroz e constante, em fase terminal e com aquele cheiro a medicamentos, que só de pensar me dá náuseas. Tenho sempre a sensação de que nesses locais, os índices de oxigénio estão muito baixos e que o ar está saturado de químicos que substituem na perfeição o dióxido de carbono e outros gases. Cheguei a dizer que podia ser a melhor aluna do mundo que jamais seria médica, enfermeira ou qualquer profissão semelhante. Bata branca só mesmo no laboratório! 

Depois teria outro problema. É que sempre que vou a um hospital apetece-me começar numa ponta e acabar noutra com orações, palavras de conforto, carinho e coisas descontextualizadas que me passam pela cabeça, como ler para alguém que seja invisual ou sentar-me ao lado de quem está só e não teve visitas. E isto tudo daria cabo de mim em três tempos. Não sobreviveria à primeira semana, pois se há coisa que não possuo é a capacidade de me abstrair das dores e do sofrimento dos outros, de ser fria ao ponto de passar por uma senhora de idade, debilitada e nua, em pleno corredor de urgências e, ser-me tão indiferente como a parede branca a que está encostada. Não. Não conseguiria, não nasci para isso, morreria antes deles. 

Não me interpretem mal, nem quero com isto dizer que sou melhor ou pior que qualquer médico, até porque respeito e admiro todas essas profissões e sei que eles precisam de se abstrair de certas situações para poderem trabalhar em condições. Mas não é de facto para mim, porque antes mesmo de conhecer este versículo bíblico, já o entendia na perfeição: "Alegrem-se com os que estão alegres e chorem com os que choram" Romanos 12:15

1 comentário:

Lurdes Dias disse...

Houve um altura em que achei que não conseguiria...
Houve uma altura em que tentei...
Chorei, fiquei de rastos, irritei-me com a frieza dos profissionais, que embora necessitem dela para fazerem o seu trabalho, aos olhos dos que sofrem essa capa que demonstram é apenas isso: frieza.
Houve uma altura em que me apercebi que não sendo talhada para isso, há qualquer coisa que me puxa para estes lugares, para estas pessoas.
Longe de mim pensar que tenho estomâgo para tanto sofrimento, não tenho. Uma palavra de agrado da parte deles e eu choro baba e ranho...
Mas houve alturas em que achei que era o meu lugar....
Hoje sei que não existe só um lugar. E que a acção para ajudarmos quem sofre está em todo o lado, até num certo grupo no Facebook.
E isso para mim alegra-me e deixa calor no coração...