segunda-feira, 4 de março de 2013

Mudar |Totalmente

Há seis anos, acabava o meu estágio. Um estágio muito sofrido, muito desgastante, com cerca de 270 km de viagens diárias e de trabalho não financiado. Estava muito doente e quando me lembro disso, não sei como aguentei... 
No ano seguinte, não pude concorrer, tinha saído uma lei que impedia professores recém licenciados de irem a concurso nacional. O futuro adivinhava-se cada vez menos promissor. 
Entre alguns part-time e atividades ligadas à minha área de formação, fui-me aguentando. Só em 2009 pisei uma escola pela primeira vez, e que escola. Experiência dura, mas das mais gratificantes porque passei. Alunos drogados e bêbados às oito da manhã, tiroteios semanalmente e sofrer uma descriminação extrema por ser a única pessoa branca dentro da sala, foi dose. Mas também foi muito giro e voltaria a fazer o mesmo, até porque se assim não tivesse sido não teria pisado mais três escolas nos anos seguintes, uma das quais onde estudei. Tive o privilégio de trabalhar com colegas, outrora professores, que mais uma vez contribuíram para o meu processo de aprendizagem, de forma diferente, mas não menos importante.
Com a crise cada vez mais notória, as reformas e as reduções de horário, tudo foi ficando pior e, em 2012, o meu contrato terminou. Seguiam-se mais tempos difíceis, cerca de oito meses de desemprego e de uma insatisfação abrupta. Para dar um pouco mais de emoção à coisa, quatro meses depois ele também veio para casa. Foram muitos os nãos, foram muitos os dias sem ver uma saída possível, e ele só me dizia que aproveitasse o tempo livre porque de um momento para o outro, tudo recomeçava. Como sofro sempre um pouco por antecipação, já estava a ficar mal humorada e depressiva. Credo, coitado do homem. 
Os projectos que estávamos envolvidos na altura não nos satisfaziam e só nos deixavam o gosto amargo da desmotivação. Restava-me ler muito, desenhar e foi nessa altura que surgiu a ideia deste blog.
Cenário muito negro? Não! Não foi fácil, mas eu é que sou mesmo neurótica. Rapidamente, percebemos que tínhamos de traçar um plano, uma estratégia. Era altura de mudar, e como custa mudar.
Na verdade, foi apenas uma única decisão que fez com que a nossa vida rodopiasse. Vários projectos foram colocados em cima da mesa, mas como sempre, deixámos que Deus fizesse o resto, inclusive decidir por nós.
Em Maio de 2012 começaram os esboços e em 7 de Julho a nossa pequena loja abria. Grande maratona... Negócio?! Em plena crise??? Pois, foi o que toda a gente nos disse, uns a seguir aos outros, que era uma grande estupidez... E os que não disseram, pensaram...
Para nós tudo se resumia a acreditar que melhores dias viriam e que nunca nos perdoaríamos se não tentássemos. Vai daí, cá estamos em plena crise com sete meses de vida, conscientes de que mais sete se avizinham, mas confiando que Deus tem sempre o melhor para aqueles que nele confiam e que este pequeno projeto é como a minha primeira escola, uma porta aberta para tantas outras coisas.
Se não me custa deixar a área para a qual estudei? Não imaginam o quanto. Mas não tinha grande alternativa e, neste momento, não trocaria o suave gosto da motivação proveniente das coisas que nós mesmos criamos.

Photo: Sandra Bullock

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